sábado, 23 de janeiro de 2010

Por quem os sinos dobram


Nunca mais
Caminharás nos caminhos naturais.
Nunca mais te poderás sentir
Invulnerável, real e densa -
Para sempre está perdido
o que mais do que tudo procuraste
A plenitude de cada presença.
E será sempre o mesmo sonho, a mesma ausência.


Sophia de Mello Breyner,
Nunca mais




Desculpem. Hoje é a sério.
Ele era o miúdo mais giro do liceu e ela uma miúda apagada, entre a miríade de garotas adolescentes. Não fosse ser a mais inteligente de todas e a que tinha um futuro mais promissor, ele nem sequer teria olhado para ela duas vezes. Quando ficaram na mesma turma, ele percebeu que se estudasse com ela, ficasse ao seu lado nos testes e fizesse parte do seu grupo de trabalhos, faria a escola secundária com a maior das facilidades. Seguiram juntos para a universidade e para a vida. Nem os amigos dele percebiam porque é que permitia que aquela mosquinha morta o seguisse para todo lado, nem as amigas dela percebiam aquela paixão por um fulano que tinha os olhos virados para o umbigo e só gostava dele mesmo. Acabado o curso casaram, seguindo o que aparentemente parecia ser o rumo natural das suas vidas, mas que ninguém percebia. Um bom curso, um bom emprego, uma boa casa. A história acabaria aqui e nem sequer seria original. Mas não acabou.
A primeira vez que ele a atingiu, ela ficou a matutar no que poderia ter-lhe acontecido durante o dia. Desdramatizou o sucedido. Fora só uma bofetada sem consequências. Os dedos mal lhe tocaram. Talvez ele se tivesse chateado no emprego, talvez estivesse com dor de cabeça. Não merecia a pena empolar a situação. Quem sabe, fora somente uma cervejinha a mais. Não fora ele, claro! Fora o alcool. Ele não seria capaz de lhe levantar a mão. Quem ama não maltrata!
A segunda vez que a mão dele a atingiu em cheio na face, deixando-lhe um rasto de fogo e dor na pele, ela ficou a matutar no que pudera ter feito para lhe provocar tamanha ira. Quem sabe, por ter ajudado os miúdos a tomar banho, ou o jantar tivesse ficado cozinhado demais e sem sabor. Talvez ele se tivesse sentido posto de parte por ela ter conversado com a mãe ao telefone mais cinco minutos do que na semana anterior. Ou então, seria por se ter esquecido de lhe pregar o botão das calças que ele queria exactamente vestir nesse dia e não nenhum dos outros cinco pares pendurados no roupeiro. Ou a nódoa que não saiu da t-shirt depois do último jantar com os amigos dele no sábado à noite, e que ela não se lembrou de esfregar à mão. Tudo por culpa dela. Tinha de estar mais atenta. Aquilo fora concerteza uma chamada de atenção, como se ela fosse uma garota da escola que precisasse de castigo por não ter feito os trabalhos de casa. Quem ama educa!
À terceira vez, o sangue escorreu-lhe pelo nariz e salpicou o tapete, os filhos choraram agarrados às suas pernas e ela ficou a matutar no porquê sem encontrar uma razão. Contou á mãe. A mãe aconselhou-a a não dizer nada, a fazer de conta que nada sucedera e a ser mais amorosa com ele. Os homens tinham dessas coisas. E às mulheres cabia compreender. Não, não se contava fora de casa o que acontecia entre marido e mulher! Que vergonha! O que é que as pessoas iam pensar? Que ela não sabia cuidar da casa, dos filhos, do marido? Trabalhava fora pois sim, como todas as outras, isso que tinha? Ela tinha um curso superior, era jovem e bonita e bem cotada profissionalmente, mas em casa era apenas uma mulher e esposa e tinha de se comportar como tal. O pai fizera o mesmo em determinada altura da sua vida. Depois passara-lhe. Fora uma fase. Ela ia ver que as coisas haveriam de melhorar. Só tinha que ser mais cuidadosa e... Boca fechada! Quem ama não conta!
Da quarta vez, ela nem se preocupou em encontrar uma razão. Apenas procurou encontrar uma boa desculpa para justificar as nódoas negras e a costela partida aos seus amigos e colegas de trabalho. Uma amiga deu-lhe um cartão com um número de telefone, discretamente e com um sorriso cúmplice. Ela olhou o número, telefonou e quando a voz do outro lado anunciou o nome da entidade para quem ligara, ela simplesmente desligou o telefone furiosa e incomodada. Que disparate! Ela lá precisava de ajuda? Tinha um bom emprego, ganhava bem, era culta e inteligente. Valia-se a si própria. Não precisava da ajuda de ninguém, muito menos dum grupo de mulheres que apregoava ao resto do mundo os maltratos dos maridos, companheiros, namorados. Era só uma fase. Ela não era nenhuma mulher maltratada, nem desvalida. Aquilo ia passar. Quem ama perdoa!
Da quinta vez que aconteceu, já estava habituada. É incrível o tipo de coisas a que o ser humano se habitua! Seria amor? Seria preguiça da sua parte? Acomodação? Medo? Sabia lá! Acordou no hospital. Mais costelas partidas, um pneumatorax ligeiro, o nariz quase desfeito. Uma das enfermeiras não acreditou na sua desculpa de ter caído pela escada. Era uma desastrada e distraída e ainda não aprendera a andar de saltos altos.
- Está bem. Então antes de aprender a andar de saltos altos, e antes que se mate, telefone a quem a possa ajudar a aprender a caminhar. - Disse a enfermeira com preocupação. Já tinha visto tantas mulheres assim! Umas voltavam para casa e regressavam, ano após ano, mês após mês, dia após dia. Outras já não regressavam. Entravam directamente para a cave, um corredor mal iluminado e a cheirar a formol e desinfectante, e ficavam ali deitadas numa cama de aço, um lençol por cima a tapar o corpo massacrado e uma etiqueta no dedo grande do pé. Ela encolheu os ombros. Quem ama não mata!
Da sexta vez, ela tapou a cabeça com as mãos e encolheu-se quieta num canto, esperando que a fúria dele se esgotasse. O sangue jorrou-lhe do nariz, dos ouvidos, até dos olhos. Nunca pensara que o seu corpo conseguisse aguentar tanta dor. O cérebro parecia ter-se diluído com as pancadas, encurralado entre uma caixa cerebral que estalava a cada soco. Quem ama... Quem não faz o quê?
Não houve uma sétima vez. Entrou no hospital já coberta por um saco de plástico grosso com fecho. Seguiu para o corredor mal iluminado. Ficou em paz e sossego numa cama de aço a engrossar as estatísticas.
À Joana. Amor mata!
 


O Estado das coisas (nos media):
«[...] Jornalista: Na sua opinião, uma mulher agredida pelo marido deve manter o casamento ou divorciar-se?
Monsenhor LG: Depende do grau da agressão.
Jornalista: O que é isso do grau da agressão?
Monsenhor LG: Há o indivíduo que bate na mulher todas as semanas e há o indivíduo que dá um soco na mulher de três em três anos.
Jornalista: Então reformulo a questão: agressões pontuais justificam um divórcio?
Monsenhor LG: Eu, pelo menos, se estivesse na parte da mulher que tivesse um marido que a amava verdadeiramente no resto do tempo, achava que não [...]»
(Monsenhor Luciano Guerra, Reitor do Santuário de Fátima; entrevista ao DN, 6.10.2007)

Eu não comento. Só pergunto: alguém me sabe explicar o que é isso do amor com intermitência? Hoje amo-te, amanhã bato-te e depois de amanhã volto a amar-te se não me apetecer voltar a bater-te?

Actualmente registam-se cerca de 76 queixas diárias de maus tratos, violência doméstica por dia. POR DIA! São cerca de 3 queixas por hora. Ou seja, a cada 20 minutos, alguém é agredido e apresenta queixa. E os outros? Os que se calam? Quantos são?

Linha telefónica de informação ás vítimas de violência doméstica: 800 202 148
Onde pode apresentar queixa?
APAV - Associação Portuguesa de Apoio à Vítima
NMUME - Núcleo Mulher e Menor, Guarda Nacional Republicana
Posto da GNR
Esquadra da PSP
Polícia Judiciária
Ministério Público
Ministério da Administração Interna (Pode apresentar queixa por via electrónica)
Instituto de Medicina Legal (Lisboa, Coimbra e Porto)
Gabinetes Médico-Legais a funcionarem nos Hospitais


As manias das mulheres

Primeiro as senhoras. Que é para os homens não protestarem já:
- O quê? Nós outra vez?
Isto, aviso eu, é pura estratégia feminina.

Porque é que as mulheres falam tanto?

Uma pesquisa realizada nos EU (Muito pesquisam eles!) mostrou que os homens usam por dia um mínimo de 1500 palavras e as mulheres o dobro. No congresso onde este estudo foi apresentado, uma mulher levantou-se e tentou justificar-se:
- É natural que falemos mais. Invariavelmente temos de repetir o que dissémos para os homens nos entenderem.
E o orador perguntou:
- Como assim?

Porque é que as mulheres usam malas que parecem baús ou a bagageira do carro do meu tio Isaac?

Carteira. Porta-moedas que as moedinhas são mais que muitas e têm de ter estojo próprio senão rompem a carteira. Bloco-notas. Canetas, não vá uma deixar de escrever, há que ter pelo menos duas. Lenços de papel, mais do que maço faz sempre jeito. Perfume. Baton (pessoalmente sem este item sinto-me meio despida). Rimel. Blush. Pente. Livro ou revista. Chaves (da casa, da casa dos pais, da casa do namorado, do carro, da arrecadação, do gabinete, da gaveta do cemitério...). Pen. Uma série de papéis do Multibanco e do supermercado.
No mínimo.

Porque é que as mulheres vão em bando à casa-de-banho?

Ora, para além do óbvio, vão obviamente falar dos seus homens. Ah, pois vão! Comentar o que os seus acompanhantes fizeram ou disseram, contar que o loiro giro com ar de pirata do bar não tira os olhos dela, enfim, essas coisas. Ao contrário dos homens que calam pormenores sórdidos das suas mulheres (será?), estes são os primeiros segredos que as mulheres trocam umas com as outras. É no WC que se dão conselhos, se enxugam lágrimas, se destroem relações, se trocam experiências e batons e se dá um toque no penteado novo da amiga.
Claro que também costumamos ir em bando por solidariedade. Invariavelmente não há onde pendurar a mala e... Oh incúria, oh infortúnio, oh desdita! O papel higiénico acabou no mês passado. Uma amiga salva sempre estas situações. Estão a ver agora a necessidade das paletes de lenços de papel na mala?
Enquanto isso, o príncipe-sapo e o sapo-príncipe fazem xixi, esperam, sopram, olham o tecto e um deles ainda tem tempo de ler poesia de Neruda.
Hem??? O que é que eu escrevi? Lê Neruda? E onde anda esse espécimen raro? Onde?

Porque é que as mulheres gastam tanto dinheiro em lingerie?

Desiludam-se. Não é para que os olhos dos homens saiam das órbitas, não. É porque dá um tremendo prazer sabermos que debaixo da camisola de lã, velha e confortável, está uma obra de arte artificial suportando obras de arte da natureza. Faço minhas as palavras que ouvi um médico comentar com um seu colega sobre uma sua paciente das urgências:
- Não há nada mais triste do que uma mulher com umas cuecas rotas ou um soutien velho e desbotado!

Porque é que as mulheres usam decotes e saias curtas?

E passam a vida a puxar o decote para cima e a saia para baixo? Pois, de facto eu não tenho resposta para tudo, mas ou assumem ou não usam. Não é sensual (gosto mais do sensual que de sexy) andarem constantemente a mexer num e noutro, porque se percebe que não estão à vontade.

Porque é que as mulheres substituem um elogio por um comentário negativo?

Casados há vionte anos. O Manel chega a casa com um bouquet de malmequeres.
A Maria, esconde o espanto e a felicidade e comenta:
- Ena! O que é que te deu? Estás doente ou quê?

Porque é quas mulheres consideram o futebol um rival?
Não seria pior para os nossos egos se eles desatassem a ver todos os filmes da Angelina Jolie?

Porque é que as mulheres falam mal dos homens?

Quando eles tentam ajudar e nós continuamos com a mania de que temos de os ensinar para que as coisas saiam como achamos que devem sair? Porque é temos sempre de os comparar com seres perfeitos? Claro que quando uma mulher avalia um homem está sempre a compará-lo com o ser mais perfeito que conhece, que é ela própria.
Deixem fazer! Caso contrário, se forem logo catalogados com a categoria de sub-inútil nunca mais voltarão a tentar.

Porque é que as mulheres são umas cabras umas para as outras?

Os homens entre eles tratam-se abaixo de cão. Com nomes que se as avós deles ouvissem, os habilitava a terem pimenta na língua ou irem à igreja meter a língua na água benta.
- Então, meu grande cab... O que tens feito da put... da vida, meu?
- Eh, FDP, 'tás mais gordo meu!
Quando se despedem e vai cada um para seu lado, comentam sozinhos:
- Eh, pá, gosto mesmo deste gajo!
Não é por mal, é camaradagem.
As mulheres?
Amiga 1: - Achas que este vestido me faz mais gorda, querida?
Amiga 2: - Não! Que disparate! Até te faz mais elegante e realça-te a cor do cabelo.
E enquanto a amiga 1 vai toda lampeira pagar a sua nova aquisição, a amiga 2 comenta entre dentes:
- Realça-te a cor do cabelo oxigenado com raízes pretas à mostra, as banhas e o cu de prateleira... Gorda!

Ah, os homens sorriem? Já lá vamos!