quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Tecla 3 ou as novas deficiências

Deficiente” é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
“Louco” é quem não procura ser feliz com o que possui.
“Cego” é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
“Surdo” é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.
“Mudo” é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
“Paralítico” é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.
“Diabético” é quem não consegue ser doce.
“Anão” é quem não sabe deixar o amor crescer.

Mário Quintana



Idiota, asno, tonto, sonso, imbecil, otário, trouxa, não é o que nasceu com QI abaixo de 70, mas é o que pensa que tem sempre amanhã para dizer o que deve ser dito a quem espera que lhe seja dito. É o que adia a palavra porque precisa de pensar mais nela ou porque não tem coragem para falar.

Estúpido, burro, cepo, estulto, lerdo, néscio, obtuso, não é o desprovido de inteligência, não é o que não assistiu à distribuição de miolos e também não é uma questão de QI, mas de diarreia mental, súbita ou crónica. É o que permanece no buraco onde caiu, para onde se atirou ou para onde o atiraram, e fica à espera que alguém o vá salvar ou que lhe deitem terra para cima, numa auto-destruição consciente ou inconsciente.

Parvo, disparatado, inepto, palerma, paspalho, pateta não é o que faz figura de tolo para cumprir um ideal ou correr atrás dum sonho, mas o que se senta e deixa o momento passar com medo do juízo e intolerância dos outros, na maioria das vezes tão ou mais parvos do que ele.

Palhaço não é somente o que faz rir os outros, mas o que se esconde atrás das máscaras da vida, pretendendo ser outro e esquecendo-se de quem é, não para enganar os outros mas a si próprio.

Bruto, animal, bárbaro, besta, rude, selvagem é o que não sabe que o amor e a amizade abrem mais portas que todos os músculos do seu corpo.

Maluco, mentecapto, louco é o que acha que para encontrar o sol tem que ignorar todas as estrelas.

Forreta, avarento, sovina, mesquinho, unhas de fome, pão-duro é o que tem braços e não sabe distribuir um abraço por quem precisa, ou mesmo por aqueles que não precisam, mas que o amam e que ele ama, dar a mão a quem anda perdido ou caído no chão.

Pobres de espírito não são os que, pobres ou ricos, têm o espírito desprendido das riquezas materiais. São os que, espiritualmente vazios, tentam colmatar essa lacuna com a arrogância e o orgulho. A esses, já não lhes basta o reino dos céus, ignoram gurus e profetas, mas já fizeram deles o reino da terra e arredores. São os que acham que nasceram naturalmente com o rabo virado para a lua e que tudo lhes é devido, que esperam que toda a gente estenda a passadeira vermelha à sua passagem e lhes preste vassalagem, que o mundo há-de parar para eles saírem no próximo planeta, de tão aliens que são. Infelizes, estes pobres de espírito, pois não há antídoto para a disenteria que lhes toldou o discernimento!

Ainda há os cegos, os mudos, os surdos e os paralíticos que Mário Quintana tão bem definiu e cuja deficiência nada tem de físico… Infelizes todos e pobres de nós que tropeçamos neles a toda a hora. Haja paciência, que a tolerância para estas novas deficiências está-se a acabar.

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