quarta-feira, 13 de novembro de 2013

"Tenha o seu amor de volta!"

"Trago seu amor de volta com a alta magia da amarração infalível grátis  Isso mesmo infalível, não sendo possível ninguém descobrir e nem reverte. Mandamos fotos e videos de todo o seu trabalho de amarração infalível para total acompanhamento..."


As páginas dos jornais e revistas andam repletas de anúncios de pretensos videntes, médiuns raros que, entre outras coisas, garantem que trazem de volta um amor perdido.

Eles chamam-se a si próprios Mestres, Professores, Mães e Pais, Gurus. Alguns não vão tão longe e são apenas Magos ou mesmo Bruxos. Não tenho nada contra a proliferação dos credos e de quem os segue, seja por fé religiosa, pela esperança duma vida melhor, ou por crença inabalável no dinheiro dos outros. Posso ser contra algumas práticas menos ortodoxas, começando pela exploração da dor alheia e pelo sacrifício cruel de animais (existe sim!). Não vou por aí hoje.

O que eu não compreendo é como é que alguém há-de querer de volta, seja por feitiço ou amarração ou outra coisa qualquer que o diabo invente e o homem execute, alguém que não quis ficar do seu lado, alguém que partiu de moto próprio desprezando quem o(a) amava? Então, vamos supor que a amarração resulte (que eu não brinco com certas entidades): mas quem é quer um zombie em casa? Quem é que quer ser pseudo amado por um(a) "coisa" sem vida própria, uma marionete com olhos de carneiro mal morto, depois de sujeito àquelas práticas?

Era certamente mais correto que aqueles magos (?) simplesmente prometessem: o seu amor foi embora? Venha que eu ajudo a esquecer mais depressa!

Já que estes mestres do oculto se fazem pagar bem, eis aqui um volte-face de marketing. inventem lá o despacho para descanso dos corações despedaçados e soprem o objeto de amor não correspondido ou desprezado para o continente dos cangurus, bem longe da vista e ainda mais do coração. Assim, duma só vez e celeremente, sem o apoio do tempo que tudo faz esquecer (dizem!), mas é somente um sádico porque demora muito a exercer o seu míster e a imagem, as memórias passadas com o ser amado mas não amante, vão devagarinho, devagarinho...

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Perfeito! Ideal, ou outra pessoa no horizonte...

Após 10 anos de vaguear pelo mundo fora, um homem, resolveu voltar à sua aldeia natal.
Um velho amigo que o reconheceu, imediatamente lhe perguntou curioso:
- Então, pá, encontraste a mulher perfeita nas tuas andanças?
O homem respondeu, sonhador, a memória perdida algures:
- Lá no sul encontrei uma mulher linda, com olhos de pérolas, cabelo de trigo e sereia, o corpo de uma deusa.
O amigo, entusiasmado, perguntou:
- E então, onde está ela, veio contigo?
- Infelizmente não era perfeita, pois era muito pobre. Não era a mulher ideal para mim
- Oh. E então?
- Então fui para o norte e encontrei uma mulher que era a mais rica da cidade. Era tudo dela.
Não tinha nem noção do poder e dinheiro que tinha.
- Então essa era perfeita. Veio contigo?
- Não, também não, - respondeu o homem, - tinha um defeito. Sabes, nunca tinha visto criatura mais feia em toda a minha vida...
- E depois? – insistiu o amigo já com algum desânimo.
- Finalmente, rumei a oeste e conheci uma mulher encantadora. Bela como uma sereia e tinha muito dinheiro. Era perfeita.
- Ah então ela veio contigo, já não a largaste mais, não é amigo?
- Não. Porque, infelizmente, ela também procurava o homem perfeito.





Encontrei esta história na net há algum tempo e achei-a… perfeita. Quase nem era necessário dizer mais nada sobre a incessante e infrutífera busca do ser humano pelo outro ser humano perfeito e ideal que encaixa em si. Com perfeição.

Muitos desperdiçam a vida nessa busca. Tenho para mim que não há pessoa mais infeliz que aquela que passa o tempo com a cabeça voltada para olhar por cima do ombro à procura do seu ideal e não vê o que tem na sua frente, e muitas vezes ignora quem está ao seu lado. Enquanto isso, a vida acontece-lhe.

Mas o que é o ideal? Quem é a pessoa perfeita senão um protótipo, uma ilusão, uma imagem surrealista que a mente criou, quiçá à imagem de si própria, ou de alguém que foi amado e por algum motivo saiu da sua vida sem dizer todas as palavras que deviam ser ditas?

Na maioria das vezes, quer numa, quer noutra situação, o ideal é deceção. E aqueles que buscam nem sequer dão uma chance a um novo relacionamento, a uma nova pessoa que possa aparecer. Esse ideal é tão pesado, tão prepotente na sua existência mentalizada, memorizada e intrinsecamente idealizada, que invariavelmente nem deixa continuar o que mal começou. O ideal é uma armadura, do mais puro ferro, que mesmo pesado e ferrugento os isola da realidade. Da realidade exterior e da sua própria realidade.

Voltam o rosto para todos os pontos cardeais na sua busca incessante. Iludidos de que a qualquer momento a tal pessoa certa, vai pular a cerca e chocar com eles. Não podem perder tempo com mais ninguém, têm de estar disponíveis para a sua princesa ou príncipe encantado. Passam a vida a saltitar de relação em relação com a mesma elegância e suavidade com que um elefante saltaria de nenúfar em nenúfar.

Ao primeiro problema, enfastiam-se, porque não sendo a pessoa ideal, todos os contratempos são irresolúveis, muros insuperáveis que com a sua musa/fauno encantado nunca teriam. Por isso, aquela é a pessoa errada. Rompe-se mais uma relação sem perceber que o errado é apenas diferente e não há tempo nem paciência para conciliar diferenças, porque a pessoa ideal está ali na esquina à espera e lá vão por ela, na sua senda quixotesca, deixando atrás de si e levando consigo nada mais que frustração e desilusão. Às vezes voltam para trás. Mantêm relacionamentos do tipo “vou ali e já venho, na verdade vou só ver se aquela/e é melhor do que tu, e se não for, volto e depois logo se vê”. Ou então, passa o pouco tempo de permanência numa relação a tentar anular a personalidade do outro/a e a fazê-la renascer como fénix, ideal e perfeita/o. Porque o cabelo precisa dum corte e doutra cor, porque se tem vestir desta e daquela maneira, porque tem de fazer o que ele/a diz sob pena de amuar, porque é gorda/o ou magra/o demais, porque tem de o/a acompanhar a todo o lado, quer lhe interesse quer não, claro que tudo isto sempre no interesse do outro, para que ele melhore. Não interessa onde ficou aquela personalidade cativante que inicialmente lhes chamou a atenção. O que é preciso é que seja igual àquela imagem idolatrada que colocamos num pedestal da memória.

- Vida própria? Qual vida própria? Então o ideal não é estar sempre juntos? Ah, não? Então adeus que não és o meu ideal!

E aquele/a que fica para trás ou se deixa enganar numa relação iô-iô acaba mergulhado, atolado, afogado em baixa auto-estima, porque pior do que saber que não se é a pessoa certa para alguém, é saber que, algures, em algum horizonte por mais longínquo que seja, há alguém melhor que nós para aquele/a que amamos.

Chega! Nós os que ficamos para trás temos de ter a coragem e o discernimento de dizer basta, de gritar não! Porque somos reais de carne e osso e não viemos de nenhum conto de fadas ou de alguma imaginação fértil e delirante. Porque amamos e nos emocionamos, porque temos defeitos e virtudes mas estamos ali, no aqui e agora e não num horizonte distante, ou num qualquer vislumbre por cima do ombro. É a nossa mão que ampara a deles, o nosso abraço que os sustenta, somos palpáveis, não desenhos animados. E porque merecemos que nos vejam como somos e quem somos.

Aquele/a que busca um ideal, não tem amor para dar, quem sabe amar não idealiza o outro, não o mistifica. Aquele/a que busca um ideal apenas se frusta a si mesmo e perde a vida que passa indiferente. Porque aquele/a que busca o ideal também não é perfeito para ninguém e no seu horizonte não há musas nem faunos encantados, apenas a solidão estéril aguarda. E um coração deserto.







sexta-feira, 25 de maio de 2012

E se fosse hoje?


Todas as manhãs, em África, ao nascer do sol
uma gazela acorda sabendo que tem de correr mais que o mais rápido leão,
ou será caçada até à morte...
Quando nasce o sol,
um leão acorda sabendo que tem de correr mais depressa que a mais lenta das gazelas,
ou morrerá à fome...
Não importa se és uma gazela ou um leão,
quando o sol nascer,
corre o melhor que puderes!
When The Sun Rises In Africa, 
in Prav's World 


Se soubéssemos antes que a morte viria... Teríamos amado mais? Escolheríamos a vida que queríamos? Teríamos falado mais de amor e menos de rancor? Teríamos escolhido ser felizes mais vezes? Teríamos sido fiéis a nós próprios, ao invés de sermos quem os outros esperavam que fossemos? Teríamos seguido o mesmo caminho, com as mesmas pessoas? Teríamos deixado partir aquela pessoa especial?

E se a malvada viesse com a foice hoje, agora mesmo atrás de nós, sem aviso, como quem corta ervas daninhas pela base?O que diríamos a Deus ou aos que já tivessem partido antes e nos viessem acompanhar na jornada?

O que diriam de nós os que ficavam? Aposto que todos nós teríamos imensa curiosidade em saber quem nos acompanharia à última casa. Quem nos choraria somente de dor e saudade e não pela lembrança da sua própria mortalidade? Quem se lembraria de facto de nós, uma anedota, uma lágrima, um gesto, um abraço, uma palavra, e não apenas que também um dia estaria ali estendido com o mesmo ar pálido e ausente?

Se fosse hoje... O que deixamos para trás? Um milhão de euros para a família brigar ou um milhão de beijos e abraços que serão lembrados por outras vidas?

Na nossa vida ceifada abruptamente, tivemos algo ou alguém por quem estaríamos dispostos a morrer? Dissemos "amo-te" mais vezes do que "o raio que te parta"?

Será que alguém nos vai perguntar estas e outras coisas do lado de lá do rio da vida? Temos respostas?

Morrer cedo devia ser probido. É transgressão. Mas também, para quem morre é sempre cedo.

Estamos a viver como quem sabe que a malvada pode nos ceifar daqui por um minuto ou como se fossemos eternos e donos do tempo?

Tenhamos a coragem de viver, já que qualquer um pode morrer!



Para uma amiga que decidiu ir cantar com os anjos. Cedo demais.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

30''

O tempo é muito lento para os que esperam
Muito rápido para os que tem medo
Muito longo para os que lamentam
Muito curto para os que festejam
Mas, para os que amam, o tempo é eterno.

William Shakespeare
 
 
 
Há alguns meses atrás, alguém me perguntava: o que é que podemos fazer em trinta segundos? O que nos pode acontecer em trinta segundos? Não parece muito tempo, pois não? É mais um exemplo da teoria da relatividade. Experimentem suster a respiração durante 30 segundos. Experimentem sentar-se no bordo duma lareira acesa. Ou então conversar com alguém interessante, mergulhar em água quente depois de encharcados pela chuva, durante 30 segundos. Aposto que o vosso conceito de tempo diverge numa e noutra situação.


O que é que podemos fazer em trinta segundos?

Correr 100 metros.
Saborear um copo de vinho.
Fazer uma sandes.
Partir um braço.
Ir à casa de banho.
Fazer um café.
Ter um choque de emoção ou de susto.
Ter um ataque de asma.
Detonam bombas em trinta segundos.
Nascem bebés em trinta segundos.
Doenças são transmitidas.
Há um tremor de terra algures.
Pintar as unhas.
Parar de lutar?
Abraçar alguém.
Há uma descarga de adrenalina em 30 segundos.
Em 30 segundos, escrevemos uma frase dum poema.
Fazer um desenho.
Afagar um animal.
Agradecer.
Salvar uma vida.
Tirar uma vida.
Plantar uma árvore.
Mundos colidem em trinta segundos.
Pessoas também.
Cai um meteorito em 30 segundos.
Olhos caem nos olhos.
Dá-se um beijo.
Apaixonamo-nos.

É a mão do destino? Uma nova oportunidade? A foice de Deus talhando a vida das suas marionetas? Um cupido tosco e atrevido? Um anjo brincalhão entrelaçando caminhos?

A nossa vida pode mudar em trinta segundos. Ou até em menos. As vidas são feitas de muitos segundos. A minha já ultrapassou um bilião. Infelizmente, a maioria de nós não ultrapassará os dois biliões e picos. E o que é que fizémos de todos estes segundos que já vivemos? Mais importante ainda, o que é que retendemos fazer com os que nos restam?As vidas são feitas de muitos segundos. E apenas uns poucos são precisos para fazer a diferença numa vida.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

As almas partidas

Almas gêmeas.
A minha geme e a
outra não se acalma.

Rogério Viana



Há alguns anos, mal a minha filha sabia falar, muito menos contar ou ter a noção dum valor numérico, disse-me ao ouvido que já gostava de mim há dez mil anos.

Quantas vezes me virei na rua para voltar a olhar alguém que sei que não conheço mas que reconheci? Andei anos a querer visitar uma determinada cidade do outro lado do mundo, sem saber porquê, o que me atraía, o que me chamava. Quando lá cheguei, reconheci lugares e senti-me como quem regressa a casa.

De onde nos vêm estes sentimentos, estas emoções súbitas e desconhecidas?

Há quem diga que o nosso destino é traçado muito antes de nascermos, por nós próprios e por aqueles que amamos. Cada uma de nossas vidas é uma lição. Nossa ou dos outros. Nem sempre conseguimos perceber qual o intuito de algumas das perdas, das lutas e das dores por que passamos. Nem sempre entendemos que, por cada buraco que nos escavam no coração, importa celebrar o vazio e que o nosso dever é aprender a preenchê-lo, seja com saudade, seja com amor e entrega à vida, aos restantes segundos que ainda temos por viver.

Sejamos os professores ou os aprendizes, a verdade é que acredito em almas gémeas, pedaços de nós. Acredito também que temos mais do que uma e que amamos a todas de forma diferente com um mesmo amor, como se a nossa alma original tivesse sido partida em vários bocados e fossem lançados na vida como sementes, com tempos de germinação diferentes, com tempos de vida distintos. De vez em quando, encontramo-nos com uma ou com outra, ou com várias. Lutamos, discutimos, amamos, ficamos juntas, viramos costas, somos pais, filhos, amantes, tudo no mesmo processo kármico. Almas gémeas reconhecem-se. Em trinta segundos? Talvez menos, talvez mais.

Quando eu nasci, mandou um anjo que eu me esquecesse de todos os meus pedaços de alma. Colocou um dedo sobre os meus lábios e pediu silêncio. Guardo nos lábios a marca do seu dedo, mas não cumpri o que prometi. Não esqueci. O anjo esqueceu que o coração dá um nome às coisas na despedida. E que nos reencontros da vida, enche-se a alma do nome do ser amado e o passado, o presente e o futuro convergem num mesmo instante.

Desobedeci. Dei um nome ao último beijo, ao último abraço, à última palavra que os meus pedaços de alma me deram na despedida, antes de nascer. Eis que um surge do nada, e que tudo começa... Não, que tudo recomeça por brincadeira, por acaso ou premeditação. E às vezes trinta segundos bastam para reconhecer alguém que nos recusámos a esquecer.



quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Onde estão as Princesas que "foram felizes para sempre"?

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
.../...
Eros e Psique
Fernando pessoa


O que é que aconteceu depois de “E foram felizes para sempre”?

Era uma vez…

Não. Não gosto do “Era uma vez…” Esta incerteza temporal mas definitivamente no passado nada me diz. Não se pode mudar, já aconteceu. Ponto final. Adiante.

Recomecemos.

E se…

Assim está melhor. O “E se…” ajuda-nos a tentar ver as coisas de outra forma, contornar a questão e dar largas á imaginação, mudar o argumento, o final, os personagens até.

E se as princesas dos filmes Disney existissem hoje? Onde estariam? O que lhes teria acontecido? E se a história que nos contaram e nós contámos também, não fosse exatamente assim? Ainda se lembram delas? Conheço-as porque mas apresentaram em miúda e, em graúda, a maternidade fez-me regressar a estas pseudo-heroínas. Alguma vez pensaram no que escondem debaixo daqueles vestidos sumptuosos de seda, o que guardam tão ciosas dentro dos corpetes que lhes cingem as cinturinhas de vespa? Que mensagens subliminares nos trazem do reino do faz de conta? E para onde foram quando envelheceram? O que fizeram da vida ou o que deixaram que a vida fizesse delas, depois do “E foram felizes para sempre”?

E se a Cinderela não tivesse ouvido o badalar da meia-noite? E se de repente as suas roupas desaparecessem e ficasse nuinha no meio do baile? E se todas as outras mulheres, num repente de ciumeira, também se despissem?

E se a madrasta da Branca de Neve tivesse comprado o veneno da maçã numa loja de chineses e a Branca de Neve apenas sofresse uma bruta diarreia, como é que acabava a história?

E se a fada que os pais da Bela Adormecida esqueceram de convidar para a festa, em vez de veneno na roca de fiar tivesse levado pó de anjo para aquela gente toda?

E se o príncipe esquecido da Pequena Sereia em vez de se apaixonar por ela se apaixonasse pelo Polvo (bruxa)?

E se Rapunzel tivesse decidido cortar as suas tranças, por onde subiria o príncipe para o seu quarto?

Sou só eu que penso assim ou estas histórias de Grimm, de Andresen, de Perrault, ou lendas contadas à lareira passando de geração em geração, mais parecem contos de terror? Muito embora as partes mais arrepiantes destes contos, ditos infantis, tenham sido ocultadas dos filmes de Disney e dos livros, a verdade é que há muito de horripilante neles, pouco adequado para contar às criancinhas. No original dos irmãos Grimm, a madrasta da Branca de Neve é obrigada a dançar no seu casamento com chinelos de ferro quentes, até morrer, isto depois de a ter tentado sufocar com uma faixa apertada na cintura e envenenar com um pente cravado na cabeça, para não falar da óbvia maçã. E que dizer do canibalismo desta senhora ao pedir o coração da enteada para o comer? Também no dia do casamento (os casamentos dos contos de fadas são o fim da história, mas têm muita animação), as irmãs da Gata Borralheira (Cinderela) têm os olhos picados por pombas (lembro-me dos pássaros de Hitchcock), e para poderem calçar o dito sapatinho há uma mutilação dos seus dedinhos dos pés.

Para além do terror macabro, canibalismo, crueldade, há ainda a componente sexual destes enredos: o óbvio lobo e o Capuchinho Vermelho no diálogo célebre das orelhas, dentes, nariz e boca grandes que termina no duvidoso “Para te comer” e o príncipe da Rapunzel que sobe pelas louras tranças todas as noites ao seu quarto para lhe levar seda para ela fazer uma escada. Ai os meninos…

Encontro mais estereótipos nestes contos do que propriamente uma moral a ter em conta, a não ser obviamente uma moral já démodé em que todas são boas demais para serem humanas. Todas estas princesas e meninas ricas são lindas de morrer, tez aveludada, olhos brilhantes, cabelos sedosos, corpinho frágil e elegante, o culto da beleza feminina por excelência, as barbies do século passado. E todas duma candura e virtude à prova de pecado, mesmo nas piores circunstâncias (exceto Rapunzel que engravida com as visitas noturnas). Sempre os critérios de beleza e bom comportamento feminino, passivo, claro está. Enquanto algumas são boas donas de casa (Branca de Neve cozinha e arruma a casa dos 7 anões e a Gata Borralheira é o que sabemos), outras são a imagem da senhora que tem quem lhes faça tudo (Aurora, a Bela Adormecida para além dos criados ainda tinha 3 fadas madrinhas). Não se lhes concede vontade, arrojo, atitude. Até à Pequena Sereia, Ariel, nenhuma destas heroínas insossas reage por si própria, nenhuma delas enfrenta ou escolhe o seu destino. E então, surge a pequena Ariel que se rebela contra o seu próprio reino, abandona a sua vida anterior de princesa, perde a cauda de sereia e ganha pernas, corre o risco de se afogar, perde a sua voz de encantar e… Para quê? Por um badameco que se esquece dela e não a reconhece. Espírito de sacrifício ou estupidez emocional? Somente Bela, Pocahontas, Mulan, Jasmine (Aladino) parecem impregnadas de mais atitude e inconformismo perante a adversidade, o infortúnio e o destino, mas…

Por outro lado, todas elas duma forma ou doutra acabam por entrar na família “Encantado”. Os príncipes até podem ter nome, mas são sempre Encantados. Não sei porquê. Alguém os fadou? Têm encantos? Atributo não será, certamente, portanto deve ser nome de família. Nenhuma das moçoilas se casa com plebeus, lenhadores ou anões. Os consortes (sortudos ou não) são reis e príncipes abastados e poderosos. Nada abaixo desta condição.

Na verdade, o que é que estas princesas ensinam às nossas crianças? O que diriam se as escutássemos? Que conselho ouviríamos das suas vozes melodiosas se elas pudessem falar?

Bela Adormecida – As meninas bonitas até a dormir encontram um príncipe encantado.

Jasmine – Não interessa se és inteligente, bonita ou não tens atributos. Como mulher, o teu valor político é proporcional à tua probabilidade de fazeres um bom casamento.

Cinderela – Se fores suficientemente bonita, pode ser que escapes ao infortúnio, às más condições de vida, arranjando um homem rico que se apaixone por ti.

Branca de Neve – A beleza pode ser uma coisa tão terrível que faça com que as outras mulheres te queiram matar por inveja e ciúmes. Mas não te preocupes, assim que a tua beleza atrair um homem, ele te protegerá.

Ariel – É lícito abandonares a tua família e mudares drasticamente o teu corpo, abdicares dos teus talentos, para conseguires o amor dum homem.
Bela – A aparência não importa. O que conta é o que te vai no coração. A não ser, claro, que tu sejas a rapariga.

Em resumo, trata de seres bonita, deita-te à sombra, anula-te completamente, não mexas uma palha e espera que chegue um marido rico.

Pese embora Ariel ser a que mais arrisca (e mais perde) é de facto a que mais me arrepia. E muito embora tenha sido a Cinderela quem virou Complexo psicológico, vejo tantas Ariel à minha volta e cada vez mais novinhas que certamente virou Praga.

Não entendo esta coisa do Príncipe Encantado. Como é que se pode pensar que ele chega no seu corcel branco, dá-nos um beijo e pronto, acordamos? E que coisa é essa de beijar mulheres que não estão acordadas? Isso é assédio, no mínimo. Predadores sexuais é o que eles são! Mas onde estava o príncipe quando a madrasta da Branca de Neve a mandou matar? Então e o pobre do lenhador, que arriscou a vida para a proteger e não a matou, tinha uns lindos olhos verdes e uma mercearia na aldeia? Como não tinha pedigree…

E que dizer do calculismo disfarçado da Cinderela que assim como quem não quer a coisa tratou de deixar um sapatinho nas escadas? Sonsa! Só não percebo porque é que o sapatinho não desapareceu com a última badalada da meia-noite, como tudo o resto que era falso. E para que queria ela um príncipe que dançou com ela toda a noite e depois não a reconheceu com o seu vestido sujo de cinzas? Então não é sempre para o melhor e para o pior?

A história que tem algum sumo é de facto a da Bela e o Monstro. Porque aqui não há o culto do belo como coisa física, mas há empenho em descobrir o outro, o que se esconde para lá daquele focinho de urso ou de leão, a nobreza dum coração que aprendeu a lição. A coragem de alguém que se esforçou por conquistar a sua amada. Estes de facto merecem ser felizes.

E se…

Mas se fosse hoje, onde andariam estas princesinhas? O que lhes teria acontecido?

Comecemos pelas personagens secundárias.

As fadas madrinhas da Bela Adormecida Aurora eram afinal fadas-macho e depois de tantos anos a velarem o sono da dorminhoca de vestidinhos de seda e chapéus altos com tule, viraram drag-queens. Atuam às quintas-feiras num bar vestidas de collants roxos e coletes de lantejoulas vermelhas, sempre com a varinha (de condão, oh mentes perversas!) na mão.

A fada da Cinderela anda triste, coitadinha. Não há quem a queira por ser anafada. Nem os shows das fadas lésbicas às quarta-feiras, no mesmo bar das drag-queens, a consegue animar.

Os animais pequeninos, ratitos costureiros, esquilos cozinheiros, passarinhos cantantes e afins, fugiram para parte incerta porque o cachet lhes foi pago em cascas de noz. As animálias de grande porte andam por aí disfarçadas de gente, fruto da amizade com as fadas madrinhas e do condão da varinha. Não perdem um show todas as quartas e quintas-feiras.

A abóbora que fora em tempos carruagem de estilo da Cinderela, teve uma morte anunciada: virou sopa.

Os sete anões estão a ponderar fazer greve porque nunca mais apareceram noutra história e ainda não lhes pagaram o caixão de cristal que fizeram para guardar a Branca de Neve. A ingrata também nunca mais os foi visitar.

O lenhador que a madrasta mandou perseguir Branca de neve e recolher o seu coração, emigrou para curar o seu desgosto de amor pela pequena mas virou assassino contratado e ganha balúrdios de dinheiro. É procurado pelo FBI, CIA, NSA, Interpol, Scotland Yard, antigos agentes do KGB ainda no ativo e pelo cabo Vicente da GNR por conta dum par de balázios que devia ter dado na sua sogra e não deu.

A madrasta da Cinderela e as bruxas destas histórias juntam-se todos os sábados para um joguinho de canasta. Queimaram as verrugas, puseram unhas de gel, rimel e baton, alouraram o cabelo, vestiram-se de branco, tiraram cursos de psicologia e inscreveram-se no Meetic. A madrasta já vai no centésimo décimo terceiro encontro. A seguir vai defender a sua tese sobre os tipos psicológicos encontrados no site.

E o espelho mágico acabou enfiado numa casa de banho ao estilo rococó num bar; perdeu o pio com o que vê todas as quartas e quintas-feiras no show das fadas.

Então e as princesinhas?

A Branca de Neve enjoou as maçãs. Criou oito filhos dum príncipe deposto, gordo e barbudo que passa o dia a beber hidromel e a ver televisão. Está seriamente a pensar em procurar o lenhador apaixonado, que soube que enriqueceu, para o regenerar e recomeçar nova vida num paraíso fiscal. Enquanto isso, refugia-se no absinto e põe Xanax no hidromel do outro para que ele a deixe mudar de canal e ver a novela.

A Cinderela atirou com o sapatinho de cristal ao chão quando limpava o pó à lareira (continua com um fetiche por cinzas e lareira). Comprou uns Christian Louboutin de 400 euros (em supersaldos, obviamente), aqueles de sola vermelhinha, mas usou-os tanta vez que lhe fizeram calos e passou a usar botas Huggies (que comprou em saldo também). Divorciou-se do seu príncipe e levou-lhe metade dos bens. Mas agora só compra sapatos aos ciganos na feira de Azeitão.

A Bela Adormecida está prestes a ficar sozinha. Ao princípio era engraçado vê-la dormir. Mas agora, que os dentes estão num copo, ressona e pesa mais de cem quilos e ainda se baba, o seu príncipe está farto e vai trocá-la por uma Barbie de última geração, ou uma daquelas bonecas insufláveis que pode pôr a secar na varanda ou pendurar no estendal.

Oficialmente, a Rapunzel está num lar a curar as dores de cabeça por causa do príncipe ter subido todas as noites agarrado ao seu cabelo. Na verdade, está disfarçada na Alemanha a comandar hostes financeiras.

A Capucinho Vermelho está uma solteirona empedernida e também se inscreveu no Meetic e no outro site para pessoas casadas que querem fazer chichi fora do penico, perdão do matrimónio, com sigilo absoluto. Ela quer lá saber, já está por tudo, quer é deixar de ser solteirona, senão qualquer dia nem os lobos lhe ferram o dente.

A princesa Tiana do príncipe-sapo está separada. Ainda não se divorciou porque… é complicado. Anda por aí a beijar sapos, bodes, grilos, crocodilos e afins. Pode ser que tenha sorte. Também tentou os lobos, mas levou um murro num olho do Capuchinho Vermelho e agora evita a floresta. Continua em busca dum beijo que lhe salve a vida (Ai, quem não anda…).

E aquela coisa pequenina, ciumenta e irritante, amiga do Peter Pan, a Sininho, anda a fazer minicursos de auto-estima para ver se cura a depressão. Já mandou o Peter-Pan, eterno criançola, para aquela parte da Terra do Nunca. Está a pensar em juntar os trapinhos com o Capitão Gancho que tem uma boa reforma da Caixa dos piratas e malfeitores.

Depois duns tempos no hospital e de uma centena de sessões de fisioterapia, a Bela conseguiu recuperar. Sim que isto de dançar e namorar com um monstro tem que se lhe diga. Lá estão, agarradinhos e ainda namorando, embora ela ainda apareça com umas nódoas negras de vez em quando, porque aquela besta não sabe a força que tem Mas a crise também chegou ao castelo e estão a pensar vendê-lo a um consórcio chinês para turismo rural, comprar uma cabana na floresta e continuar a namorar sentados no alpendre. São felizes. Aliás, serão felizes para sempre.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Procrastinar ou a lenda da mera existência

Eu não vou morrer uma vida não vivida.
Eu não viverei no medo de cair ou pegar fogo.
Eu escolho habitar os meus dias, permitir que a minha vida se abra para mim,
para me fazer menos medrosa, mais acessível,
a soltar o meu coração até que se torne uma asa, uma tocha, uma promessa.

Eu escolho arriscar o significado da minha existência;
de modo que o que vem a mim como semente siga para o seguinte, como uma flor,
e o que vem a mim como flor, prossiga caminho como fruto…

Author : Dawna Markova
Vida não Vivida
(tradução livre minha)




“Como o palhaço, vamos fazendo as nossas cabriolas (…) adiando sempre o grande acontecimento (…). Nunca fomos. Nunca somos. Estamos sempre na contingência de vir a ser, separados, desligados, sempre. Sempre do lado de fora.” Henry Miller.

Nunca fomos. Nunca somos. O mais provável é que nunca venhamos a ser, mas vivemos na esperança de que o dia chegue e alguma coisa, extrínseca a nós, nos empurre para sermos. Não teremos de arcar com a responsabilidade de tomar a decisão de ser, diremos “aconteceu” e ficamos descansados. Ou então, o dia não chega e continuamos a procrastinar, velhos do Restelo no cais, vendo o barco partir, sabendo que devíamos ir nele.

Ah, covardia de ser que se esconde de si mesma num vão de escada, num esconso da alma!

Procrastinadores. É o que somos. Temos sempre tempo, logo à tarde, amanhã, quem sabe. Hoje não temos tempo, há outras coisas para fazer. É a lenda da mera existência sim, o adiar da vida, deixar de ser para apenas existir e arrastar-se nos dias.

Procrastinar não é um pecado capital, mas é certamente primo direito da preguiça. Alguns de nós já fizeram disto uma arte, diria mesmo, somos mestres no protelar. Afiamos o lápis até á exaustão e a página permanece em branco.

A procrastinação toca a todos, é universal. Todos queremos evitar a dor ou o incómodo de fazer algo que sentimos ser maçador, estúpido, injustificado, duro, complicado, arriscado. E quando nisso está envolvida a emoção, ui… Enganamo-nos a nós mesmos com desculpas frágeis. Construímos complicados silogismos, de premissas verdadeiras talvez, mas de conclusão falsa.

O pior é que neste círculo vicioso de protelar, metemos no mesmo saco as coisas que não queremos fazer mas não poderemos deixar de fazer, e aquelas que queremos, que desejamos ardentemente mas que sabemos que podem obrigar-nos a mudar tudo, a destruir para erguer de novo, a recomeçar. Isto faz medo. É verdadeiramente assustador.

Stress, angústia, noites sem dormir rebolando na cama, dores de cabeça, sensação de culpa, ansiedade, baixa auto-estima e o pior de tudo, mentalidade auto-destrutiva, como de se repente os neurónios enlouquecessem e ganhassem anticorpos… a eles mesmos. Preguiça, literal ou emocional perante uma situação cujas implicações podem ter um grande impacto na nossa vida.

Reconhecemos certamente que a maioria das vezes é mais doloroso procrastinar que dar o tal salto no escuro. E no entanto, quando ganhamos coragem e aceitamos de peito aberto o impacto, há uma sensação de alívio imediato, de prazer de ter finalmente conseguido.

Reconhecemos certamente, e sabemo-lo da pior forma, que um dia, sentiremos a dor do remorso de não ter feito, saber que bastaria um só passo para chegar lá, mas o medo paralisou-nos. Costumo dizer que prefiro lamentar ter feito, que sentir remorso por não ter feito e ficar na ignorância do que poderia ter acontecido se… Se… Se…

Como se engole um crocodilo? Uma dentada de cada vez. Obviamente que não há goela que aguente engolir o bicho todo duma só vez. Um passo atrás de um passo, sem medir o todo que nos esmaga. Mas cada passo firme, e sem paragens, sem olhar para trás. Com a consciência de que cada momento é novo e não vivido, cada momento é diferente e não há comparações com momentos passados. Com a consciência de que a vida é nossa, somos nós que a vivemos e só a nós mesmos teremos de prestar contas por ela, sabendo que a vida nos acontece sempre que paramos e nos amedrontamos ou fazemos outros planos.

Escrever mais sobre isto? Hum… Talvez amanhã…

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Come o morango!

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...

Mário Quintana
Eterno espanto

O homem escorregou no barranco e agarrou-se às raízes de uma árvore. Não se apercebera do risco, não calculara aquele perigo. Agora é que estava feito!
Em cima do barranco, um enorme urso esperava por ele, com toda a calma de quem sabe que o jantar pode demorar, mas está garantido. Quando se babava na antecipação da sua carne fresca, parecia até que se ria.
No lado de baixo do barranco, um grupo de onças impacientes e famintas começavam a combinar entre si, por antecipação, o pedaço que cada uma lhe haveria de comer, caso escorregasse por ali abaixo.
O homem olhava para cima e via o urso rindo e esperando. Encolhia-se para que ele nem sequer chegasse na sua cabeça. O homem olhava para baixo e encolhia-se para que as onças não o agarrassem pelo fundo das calças. As onças lá em baixo querendo prová-lo, e o urso em cima querendo devorá-lo e ele ali cada vez mais encolhido e encurralado, sem ver uma saída.
Nesse momento de aflição, ele olhou para o lado esquerdo e viu um morango vermelho, lindo, com aquelas escamas rubras reflectindo o sol. Que diabo, que raio de sítio para nascerem morangos. E que pensamento estúpido lhe ocorreu naquele momento. E porque não? Num esforço supremo, apoiou o seu corpo, sustentado apenas pela mão direita, e com a esquerda agarrou o morango. Levou-o à boca e  deliciou-se com o sabor doce e suculento. Um verdadeiro prazer, quem sabe seria o último prazer da sua vida....
Nesse momento, esqueceu o urso e as onças. Nesse instante de prazer, conseguiu perceber que o urso não era tão grande assim, talvez fosse apenas só mesmo um filhote. Dois ou três berros bem dados e uma dança macabra afugentavam o bicho. E as onças estavam a empalidecer de aborrecimento. Não tarda, iriam embora, tão famintas como vieram mas fartas de esperar. As onças não foram abençoadas com a virtude da paciência.
Pois é, dane-se o urso e comamos o morango!
Raios partam as onças, mas comamos o morango!
Sempre existirão ursos querendo comer as nossas cabeças e onças à espera de provar o nosso rabo. Isso faz parte da vida, O importante é saber comer os morangos, sempre. Nós não podemos deixar de comê-los só porque existem ursos e onças.
E agora dizes tu assim: Ah, isso é muito bom de dizer, mas eu tenho muitos problemas para resolver!
Tens e terás! Problemas não impedem ninguém de ser feliz. O facto do teu chefe ser um chato não é motivo para deixares de gostar do teu trabalho. O facto de a tua mulher estar com dor de cabeça não vos impede de deitarem juntos, agarradinhos. O facto do teu filho ir mal na escola não é razão para não dares um passeio pelo campo com ele.
Come lá o morango, e vive esse momento como se fosse o último. Sabes lá se não o é.


Parábola das asas

Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim
.../...

Chico Buarque

O anjo ajoelhou-se aos pés de Deus e disse:
- Senhor, visitei a Tua criação como me pediste, Fui a todos os cantos do mundo. Observei cada uma das Tuas crianças humanas …
Deus olhou para o anjo e percebeu no seu rosto o que as suas palavras omitiam.
- E o que é que te intriga? O que foi que te incomodou?
- Não compreendo uma coisa, Senhor… Porque é que cada uma das pessoas sobre a terra tem apenas uma asa? Nós, os anjos, temos duas... Podemos chegar até ao amor que o Senhor representa sempre que desejarmos. Podemos voar com toda a liberdade sempre que quisermos. Mas os seres humanos, com uma única asa, não podem voar. Toda a liberdade e todo o mundo para verem e os seus pés não se levantam do chão… Desculpa a franqueza, mas parece uma ironia… Um desperdício. Eles nem sabem...
Deus na brandura da voz, respondeu pacientemente ao anjo:
- Sim, eu sei disso. Sei que fiz os humanos com apenas uma asa.
Mas o anjo queria entender. Não se conformava com uma resposta tão lacónica e insistiu:
- Mas porque Deste aos homens apenas uma asa quando são necessárias duas para poder voar, para poder ser livre?.. E há ainda outra coisa… As asas dos anjos são todas iguais entre si, as dos humanos são diferentes… Tão bonitas, plumagens coloridas, e eles ignoram…
Deus não teve pressa de falar. Sorriu condescendente. Naquele dia tinha-lhe calhado um anjo argumentador.
- Eles podem voar sim, meu Anjo. Dei aos humanos apenas uma asa para que eles pudessem voar mais e melhor que Eu ou Vocês, e todos os meus Arcanjos. Para voar, meu amigo, precisas das tuas duas asas... Mas embora tenhas toda a liberdade do mundo, na verdade, estarás e voarás sempre sózinho. Como Eu...Mas os humanos... Os humanos precisarão sempre de dar as mãos a alguém a fim de terem as duas asas. Cada um deles tem na verdade um par de asas, uma outra asa igual à sua, em algum lugar do mundo noutro alguém que completa o par. Mas isso nunca os impedirá de voar com outro par de asas diferentes, para que aprendam que a diferença não se mede pelo colorido da plumagem, mas pela grandeza do coração. Assim, dei-lhes a possibilidade de aprenderem a respeitar-se, pois ao quebrarem a única asa de outra pessoa podem estar acabando com suas próprias chances de voar algum dia. E assim meu Anjo, eles têm também a liberdade de escolher aprenderem a amar verdadeiramente outra pessoa, seja esta a que tem a asa igual à sua ou amando alguém diferente, aceitando as diferenças... Aprenderão que somente amando, eles poderão voar. Tocando a mão de outra pessoa, num abraço afectuoso, sincero, eles poderão encontrar a asa que lhes falta e voarão. Mas somente através do amor. E assim, eles nunca estarão sozinhos, quando forem voar.

Que possamos encontrar todos uma outra asa, para podermos voar!

(Adaptação duma parábola de autor desconhecido)

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Tecla 3 ou as novas deficiências

Deficiente” é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
“Louco” é quem não procura ser feliz com o que possui.
“Cego” é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
“Surdo” é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.
“Mudo” é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
“Paralítico” é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.
“Diabético” é quem não consegue ser doce.
“Anão” é quem não sabe deixar o amor crescer.

Mário Quintana



Idiota, asno, tonto, sonso, imbecil, otário, trouxa, não é o que nasceu com QI abaixo de 70, mas é o que pensa que tem sempre amanhã para dizer o que deve ser dito a quem espera que lhe seja dito. É o que adia a palavra porque precisa de pensar mais nela ou porque não tem coragem para falar.

Estúpido, burro, cepo, estulto, lerdo, néscio, obtuso, não é o desprovido de inteligência, não é o que não assistiu à distribuição de miolos e também não é uma questão de QI, mas de diarreia mental, súbita ou crónica. É o que permanece no buraco onde caiu, para onde se atirou ou para onde o atiraram, e fica à espera que alguém o vá salvar ou que lhe deitem terra para cima, numa auto-destruição consciente ou inconsciente.

Parvo, disparatado, inepto, palerma, paspalho, pateta não é o que faz figura de tolo para cumprir um ideal ou correr atrás dum sonho, mas o que se senta e deixa o momento passar com medo do juízo e intolerância dos outros, na maioria das vezes tão ou mais parvos do que ele.

Palhaço não é somente o que faz rir os outros, mas o que se esconde atrás das máscaras da vida, pretendendo ser outro e esquecendo-se de quem é, não para enganar os outros mas a si próprio.

Bruto, animal, bárbaro, besta, rude, selvagem é o que não sabe que o amor e a amizade abrem mais portas que todos os músculos do seu corpo.

Maluco, mentecapto, louco é o que acha que para encontrar o sol tem que ignorar todas as estrelas.

Forreta, avarento, sovina, mesquinho, unhas de fome, pão-duro é o que tem braços e não sabe distribuir um abraço por quem precisa, ou mesmo por aqueles que não precisam, mas que o amam e que ele ama, dar a mão a quem anda perdido ou caído no chão.

Pobres de espírito não são os que, pobres ou ricos, têm o espírito desprendido das riquezas materiais. São os que, espiritualmente vazios, tentam colmatar essa lacuna com a arrogância e o orgulho. A esses, já não lhes basta o reino dos céus, ignoram gurus e profetas, mas já fizeram deles o reino da terra e arredores. São os que acham que nasceram naturalmente com o rabo virado para a lua e que tudo lhes é devido, que esperam que toda a gente estenda a passadeira vermelha à sua passagem e lhes preste vassalagem, que o mundo há-de parar para eles saírem no próximo planeta, de tão aliens que são. Infelizes, estes pobres de espírito, pois não há antídoto para a disenteria que lhes toldou o discernimento!

Ainda há os cegos, os mudos, os surdos e os paralíticos que Mário Quintana tão bem definiu e cuja deficiência nada tem de físico… Infelizes todos e pobres de nós que tropeçamos neles a toda a hora. Haja paciência, que a tolerância para estas novas deficiências está-se a acabar.

domingo, 21 de novembro de 2010

Matemática, ou o bater de asas da borboleta

…/…
Te amo, sem refletir, inconscientemente
irresponsavelmente, espontaneamente
involuntariamente, por instinto
por impulso, irracionalmente
de facto não tenho argumentos lógicos
nem sequer improvisados
para fundamentar este amor que sinto por ti
que surgiu misteriosamente do nada
que não resolveu magicamente nada
e que milagrosamente, pouco a pouco, com pouco e nada,
melhorou o pior de mim.
Te amo
Te amo com um corpo que não pensa
com um coração que não raciocina
com uma cabeça que não coordena.
Te amo incompreensivelmente
sem perguntar-me porque te amo
sem importar-me porque te amo
sem questionar-me porque te amo
Te amo
simplesmente porque te amo
eu mesmo não sei porque te amo...

Pablo Neruda
Te amo


Hoje apetece me falar de matemática. Daquela equação das nossas vidas que surge, invariavelmente com varias incógnitas, que muitas vezes não conseguimos resolver, por mais experientes matemáticos que sejamos. Pior, a que muitas vezes voltamos costas. Desistimos. Por medo. Pois é isso mesmo. Estou a falar de amor. E do desamor a que o votamos. Do amor que nos apanha numa esquina da vida, desprevenidos, desprotegidos e tão alheados como um recém-nascido. E o nosso caminho, ao invés de chegar a um fim, tem um recomeço.

Falo do amor que surge assim quando menos esperamos e nos vem testar como seres humanos, abalar os nossos alicerces e as nossas crenças instaladas, o nosso solitário comodismo, os nossos hábitos entranhados e poeirentos. O amor que vem testar a nossa capacidade de sermos felizes. De evoluir. De mudar de agulhas. De nos tornarmos melhores. Para nós e para os outros. Parece tão fácil...

Eu disse fácil? Pois não é. Esperem p'ra ver, quando um amor chocar convosco na próxima esquina da vida. Quando o amor nos bate á porta, começamos a acartar tijolos. Tijolos, isso mesmo. Para construirmos um muro bem grande entre nós e quem nos veio desassossegar. Pior ainda, é quando os tijolos são colocados á volta do coração, e tentamos nos esquecer que ele existe. Ao mesmo tempo, a cabeça vai-se impondo, de mansinho, como quem não quer a coisa, subrepticiamente, e arranjar mil e um estratagemas para nos acender uma luzinha vermelha de perigo bem á frente do nariz para nos obrigar a arrepiar caminho. Vamos boicotando o coração sem darmos por isso. Porquê? Para quê? Por que raio é que perdemos tempo a tentar tirar da cabeça o que não pode sair do coração? Não há garantias de que dê certo. Pois não há. Mas isso acontece em todas as áreas da nossa vida.

A vida é um circo, mas nós trabalhamos sem rede. Sejamos os palhaços ou os espectadores, os domadores ou até mesmo as feras, nenhum de nós pode ter garantias do que quer que seja. E quem as quer? Se pudéssemos saber de antemão tudo o que nos aconteceria no instante a seguir nas nossas vidas, isso teria alguma graça? As escolhas é que são sempre nossas, mas a escolha deve seguir o coração, que certamente conseguimos ouvir mesmo através dos tijolos, tal é o seu poder. E a coragem é nossa, de o seguir, de escolher. Cumprindo os nossos sonhos, sem impedir o sonhos dos outros. Porque o amor também é liberdade. Como diria o poeta Quintana: "Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com a outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, não precisar dela." Grande verdade, com muitas interpretações. Cada um que escolha a sua. Penso que o que o poeta quis dizer é que precisamos de alguém que venha para nós, de mãos vazias mas de coração cheio. Que esteja bem consigo mesmo, de vida arrumada para ter lugar para outra pessoa, sem desesperos e procuras errantes e que tenha deixado o passado para trás.

Porém, muitas vezes, quando as almas se encontram, ou não se reconhecem ou não têm a coragem de mudar a sua vida de forma a acolher aquele amor, com medo de ser uma passagem, uma ilusão. Segundo uma teoria popular, daquelas que a inteligência humana prontamente cria para explicar os grandes fenómenos científicos a leigos, o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão ou qualquer outra catástrofe do outro lado do mundo. Obviamente é uma alegoria que tenta explicar as condições iniciais da teoria do caos.

O amor é caos. E às vezes tão imprevisível! Mas as maiores variáveis afinal somos nós que as introduzimos, só para complicar a equação. E depois, ainda há aquelas borboletas que escondemos na barriga e que quando alguém as espanta, batem as asas sobre o nosso umbigo, provocando um friozinho no corpo, um arrepio pela espinha acima, um galopar apressado do coração e claro, os efeitos aleatórios que antecedem uma explosão de paixão entre dois amantes. Isto também é a teoria do caos... Por isso nós fugimos tanto. O facto, é que a vida nos marca encontros, ainda que isto possa parecer de alguma forma o destino ou a manipulação de Deus, ou outra qualquer força esotérica, trata-se indubitavelmente de uma conspiração do universo entrelaçando os seus caminhos para que duas rotas se cruzem. Uma sofisticada equação matemática, ou física, ou o chamado efeito borboleta, em que as asas do universo batem, e há uma colisão entre dois seres algures...

Não é a gravidade da terra que nos faz apaixonar. é a lei da gravidade das almas que nos faz cair dentro dos olhos do outro e mergulhar fundo na sua alma e coraçao. Quando isso acontecer, não estejam à espera do momento ideal ou que o outro dê o primeiro passo para manifestar esse amor. O tempo certo é quando piscamos os olhos de alegria , quando as pernas tremem como se bebessemos champanhe e quando o coraçao desata a cavalgar mais depressa na presença do ser amado.
 
"O amanhã nunca morre, de facto, mas lembremo-nos de que o amanhã pode nunca chegar. (PW)"

Estação da Perda

"Do not run through life
so fast that you forget
not only where you have been
but also where your are going
.../..."

Pravsworld

Temos alturas na vida em que parece que caminhamos sob o sol, outras em que supostamente há uma nuvem privativa sobre a nossa cabeça (qual desenho animado) e que em qualquer momento vai chover e trovejar em cima de nós, (só de nós!).

Temos momentos em que talvez nos apetecesse virar bela adormecida (Hélas! Sem príncipe nem sapo que nos contente!) e ficar assim durante o tempo necessário para que tudo o que nos causa dor passe, e outros ainda em que nos apetece deixar de existir. Ter uma vara de aveleira, sacudir, fazer puuuff e desvanecer no ar.

Que devemos fazer nestas alturas, em que a comichão nos ataca a alma e a raiva nos corrói o coração? Em que somos nós contra o Mundo e todo o mundo? Fugir para outro país? Não chega, é perto. Mandar parar a Terra porque queremos descer? Desiludam-se, o mundo não pára por ninguém, nem dá prioridade a quem pensa que é a sua maior atracção. Comer até rebentar de gases? Incómodo, ruidoso e doloroso. Serrar o vizinho ao meio com a faca de cortar pão? Sangrento. Sair para a rua e dar um estalo no primeiro que aparecer com uma cara que não gostamos, em especial os que nos parecem felizes? Ou ser generosamente pérfido e distribuir pontapés a eito? Pode ter consequências perversas no reverso da medalha. Com a nossa sorte do momento, ainda nos sai um 3º dan em artes marciais. Mas apetece às vezes, não apetece? Começar uma discussão com alguém de quem gostamos? Não, não é para embirrar, é só para nos sentirmos vivos e confirmar que ainda há alguém que nos ouve e nos liga. Arrepelar cabelos de qualquer sítio do corpo? E pegar fogo no mundo, nunca vos apeteceu?

De vez em quando erramos o comboio e saímos na estação da perda. E voltar a sair de lá é que é o diabo. Dói que se farta. Não são apenas dores. É crescimento. E crescer, toda a gente sabe, dói imenso. Medimos a vida em dias, meses, anos… Mas a alma às vezes tem pressa e quer tudo já. Ontem, já era tarde. Por isso nos enganamos na estação.

Mas, porque é que medimos o tempo? Porque é que a matemática da nossa vida se limita a contar anos, nãos, fracassos, desamores, traições, infelicidades, pernas e cabeças partidas, feridos e mortos? Porque não passamos a contar também amores, alegrias, beijos, abraços, sorrisos, amigos? Porque não medimos também a vida pelo que sentimos de bom ao invés de contar somente maldades? Porque passamos a vida a pensar que somos espectadores e esquecemos que estamos no palco? Façamos como o poeta*, quando nos perguntarem que idade temos, vamos responder: “tenho três amigos, oito paixões, quatro tristezas, três grandes amores e dezenas de prazeres”. Prefiro ser a mão que pinta do que a tela em branco, a voz que canta do que a pauta com a melodia, a actriz do que a espectadora na minha vida.

Quantos anos tenho? Poucos mas bons amigos, uma paixão, um amor triste, um grande amor pequenino, um amor que procuro e nao encontro mas é grande e vem decerto de muito longe, cinco grandes saudades, e muitos muitos prazeres.

*Mário Quintana é o meu poeta

terça-feira, 20 de abril de 2010

A Lei de Murphy

Conhecem a lei de Murphy? Faz parte dum conjunto de leis epigramáticas (1) engraçadas e assustadoras. Mesmo que nunca tenham ouvido falar da Lei de Murphy (2), tenho a certeza de já a sentiram na pele! O que nos diz o seu enunciado é basicamente o seguinte:

"Quando uma coisa tem pelo menos cinquenta por cento de hipotese de correr mal, então é certo que vai correr mal!"

Ou seja, nada é tão ruim que não possa ficar pior. Tudo o que começa bem, acaba mal e o que começa mal, acaba... pior, certo?
A própria natureza está sempre a favor do erro. Estendemos a roupa com sol, cinco minutos depois, chove. Estendemos a toalha na areia da praia, dois minutos depois vem a setima onda.
Há sempre um grão de areia na engrenagem à nossa espera. Se estamos a ver a nossa equipa num jogo de futebol, é na hora do xixi que eles marcam o tão esperado golo. Se mudamos de fila no trânsito, a outra fila anda mais rápido. Se voltamos a mudar, então encrencam as duas.
Os técnicos de manutenção é que sabem bem como funciona a lei de Murphy. Depois de retirado o último parafuso da tampa de acesso ao equipamento, verificam que foi retirada a tampa errada. Depois que o ultimo parafuso da tampa do equipamento foi apertado, verificam que uma das peças do interior ficou do lado de fora. E porque é que o parafuso que cai dentro da máquina vai sempre para o canto mais inacessível?
Nas grandes empresas, sujeitas áquilo que todos nós conhecemos, (jogos de poder, cartões mais ou menos coloridos...) a lei de Murphy impera: todo o cargo tende a ser ocupado por um funcionário não qualificado para desempenhar essas funções. E a percentagem de veracidade da lei é directamente proporcional ao poder do cargo.
Ainda nas empresas, sabemos que se um documento é confidencial e nos está confiado, logo logo vai ficar esquecido na fotocopiadora. E quando estamos a treinar a nossa destreza com os botões do rato do computador com o ultimo jogo de cartas do Windows, há-de sempre entrar o director.
E que dizer das máquinas automáticas de café, quando decidem gozar connosco, como aquele meu colega de origem africana que um dia destes se queixava do racismo da máquina?
- 'Tás a ver? Até a máquina sabe que eu sou preto! Primeiro, deita o açucar, a seguir deita o café e só no fim é que cuspiu o copo.
Não é racismo, Zé, é a lei de Murphy!
No descanso das nosssas casas, não se iludam! A lei de Murphy também é lei! Todo o corpinho mergulhado na água perfumada da banheira, faz imediatamente tocar o telefone. E o novo vizinho, todo bom, só nos toca à porta a pedir um raminho de salsa quando o nosso namorado está em casa, certo?
A trajectoria do voo da rolha da garrafa de espumante encontra sempre um olho ou uma testa, não é?
A sopa não se importa se a camisa é Giorgio Armani ou da feira da ladra. Basta que esteja limpa e pronto. Caiu!
E quando nós olhamos na montra aquele vestido que tem mesmo a nossa cara e que andámos meses à procura? Pois é, já não há o nosso número.
Para não falar da visita à casa de pessoas cerimoniosas. A chance do pãozinho com manteiga que nos é oferecido cair no chão com o lado da manteiga virado para baixo é directamente proporcional ao valor, comercial e sentimental, do tapete dos donos da casa. E da nossa vergonha, claro!
Nunca há horas que cheguem num dia para tanta asneira! Mas há sempre muitos dias antes do sábado!
Mas pior do que a lei de Murphy, é a lei de Clark cujo enunciado é:

"Murphy era um optimista!"

E se por acaso se estão a sentir bem, não se preocupem que isso passa-vos! Sorriam que amanhã será pior...

(1) - Leis epigramáticas - enunciadas a partir de um sentimento ou idéia que, mesmo não sendo comprovada, alcança o status de lei como se de facto fosse verdadeira e normalmente são ditas em tom sarcástico e espirituoso.
(2) - John Murphy - engenheiro da força aerea norte-americana.

As manias dos homens

"As pernas de um homem devem ser tão longas que toquem o chão.", A mãe de Abraham Lincoln.

"E ele que não se esqueça de limpar os pés no tapete de entrada, que o chão acabou de ser lavado.", A minha avó Olívia.

Deve ser realmente uma questão de ADN. Como um jornalista (homem) já disse, os homens são mulheres avariadas. O cromossoma Y não é mais do que um cromossoma X que perdeu uma perninha e ficou avariado. Mas também, que diabo, não precisam fazer disso um handicap...

Porque é que os homens nunca fazem o que pedimos?
Porque não ouvem. A sério. Nós não temos um discurso directo e quando entramos no pedido real, depois do segundo intervalo, já eles estão a pensar noutra coisa.
Porque se esquecem. Facto cientificamente comprovado.
Porque não concordam com o que lhes é pedido e não querem dizer. Brindam-nos com o tradicional "Sim, querida" e ficamos à espera. Sentadas. Porque eles também adiam tudo. Eternamente.

Porque é que os homens nunca encontram o objecto que procuram?

Mesmo que o objecto ganhasse vida e saltitasse estridentemente à sua frente, esbracejando e gritando "Estou aqui! Estou aqui!", ainda assim tinham que nos perguntar por ele. Faz parte.

Porque é que os homens nunca levantam a tampa da sanita?

Esta é universal. Acho que nem eles sabem. E mesmo assim, porque é que não conseguem passar o aparelho do modo aspersor para o modo agulheta de forma a que o estrago seja mínimo? Bom, e coitada da mosca que tiver a ousadia de pousar na tampa da sanita... Da mosca e de quem for limpar a seguir.

Porque é que os homens têm de ser sempre os maiores no seu grupo?

Isso mesmo. Em tudo. Eu disse, em tudo!

Porque é que alguns homens não fazem a barba ao fim de semana?

Se é para deixarem crescer, enfim... De outra forma, é puro desleixo. Aproveitem também para aparar os pelinhos no nariz e nas orelhitas. Fica bem. Também é de bom tom, deitar fora o palito ou o fósforo que costuma andar ao canto da boca.

Porque é que alguns homens deixam crescer a unha do dedo mindinho?

Será para tocar guitarra? Para coçar o ouvido ou outra parte anatómica mais rotunda? Para tirar macacos do nariz no semaforo vermelho? Para tirar a carica da cerveja? Até podem ser engraçados, mas com um apêndice daqueles, benza-os Deus!
Ah, e já agora, por favor, lembrem-se de limpar as unhas, alguns parece que andam de luto. Não as cortem em publico, sobretudo com um canivete suiço. Please!!!!!

Porque é que os homens preferem andar perdidos do que perguntar o caminho?

Quando finalmente se decidem a perguntar, já estão perdidos no meio do deserto e não há vivalma à vista.

Porque é que alguns adolescentes masculinos adoptaram a moda das calças descidas até ao joelho com as boxers de ursinhos e corações à mostra?

Conseguem andar? E correr, podem? E já agora, querem saber de onde é que essa moda veio, querem?
Esta tendência nasceu nas prisões dos Estados Unidos. Os reclusos que estavam receptivos a relações sexuais com outros homens tiveram que inventar um sinal que passasse despercebido aos guardas prisionais para não sofreram consequências... Por isso, quem usasse calças descaídas por baixo do rabo estava somente a mostrar que estava disposto a ter sexo anal com outros homens... Cool, não?

Porque é que os homens se comportam como mentecaptos no trânsito?

Em especial se no outro veículo for uma mulher sozinha, a conduzir? Aceleram quando queremos mudar de faixa, descarregam a bateria a buzinar se alguem faz asneira, mas se alguém lhes apita por terem feito uma, apitam também de seguida? Porque é que olham com desdém o carro do lado se for de marca inferior ao deles e os ultrapassar?

Porque é que os homens adoram oferecer fio dental? (Não vou dizer a quem)

É óptimo para vestir dez minutos antes de fazer uma entrada triunfal no quarto. Mais nada. Já tentaram apanhar um objecto do chão com uma coisa daquelas vestidas? Correr? O fio dental consegue surpreender-nos onde menos esperamos. E que tal com uma saia num dia de ventania? Olá!


Porque é que adoram oferecer-nos as suas perguntas e respostas chavão, sem pensarem duas vezes no assunto?

- O que é que fizeste ao cabelo?

- Para mim tanto faz. São iguais.

- Está tudo sob controlo!

- Estás demasiado emocional, hoje!

E pérolas do genero. Isto são as forças de Van Der Valls (Lei do minimo esforço atomico) aplicadas aos neuronios?

Porque é que deixaram de ser cavalheiros?

Custa muito deixar-nos passar primeiro, abrir a porta do carro, ajudar-nos a vestir o casaco? Não se incomodem se protestarmos. Na verdade, fazem um brilharete e nós ficamos deliciadas.

Porque é que odeiam mulheres independentes?

Prova-o o facto de chamarem de cabra a uma mulher confiante, afirmativa e forte, em especial em caso de confronto. Se o mesmo acontecer com um homem, dizem que tem tomates, certo?

Porque é que medem a "inteligência" duma mulher conforme o tamanho dos seus atributos?

Os homens pensam que quanto maiores os seios duma mulher mais inteligente ela é. Na verdade, é exactamente o contrário: quanto maiores os seios duma mulher menos inteligentes ficam os homens.

Porque é que às vezes parecem saídos da pré-historia, exemplares unicos do Homo Stupidus Parvus Bestialis?

Ou explico. Ou melhor exemplifico:

Num jantar com 30 amigos:
- Olá! Com esse baton pareces a Angelina Jolie!
Homos Stupidus.

Numa conferência, sentado ao lado da infeliz cobaia:
- Olá! Por aqui? Olha, isto é uma seca! Não queres ir tomar um café?
- Não, obrigado. - O mais seco possível e sem olhar para o especimen para que perceba que está a incomodar.
- Olha, e se nos baldassemos durante a tarde? Conheço uns sítios lindissimos que gostaria de te mostrar!
Silêncio. A cobaia não tem palavras. Ficou atónita. O especimen procura olhar os dedos da cobaia.
- Mas diz lá, não respondes porquê? Tens dono?
A cobaia não se conteve.
- Não! Mas tenho coleira com pregos e mordo sem aviso! - E teve que mudar de lugar se quis ouvir o orador.
Homos Stupidus, Parvus.

Será que estes especimens se drogam com endorfinas e testosterona e as injectam com a seringa das farturas? Lá porque algumas de nós até acham mais graça ao lobo mau que ao caçador, não passem logo ao ataque e de boca aberta como quem vem para trincar. Alto e pára o tango!
Lá porque muitos de vós são adeptos das fast-relations, não venham para aí pensar que somos todas fast-food! Se querem chamar a atenção de alguém, sejam criativos, educados, inteligentes. Não nos enfiem a todas no mesmo saco. quem mistura pêras com morangos e limões não acaba com salada de frutas, mas com uma grande diarreia... mental.
Stupidus, Parvus, Bestialis!

A questão que se esconde por detrás da maioria destas perguntas (Não todas, obviamente) é qual é a escala que utilizamos para avaliar os homens. A quem vos comparamos e porque é que acaba sempre por vos faltar qualquer coisa? Porque comparamos os homens às mulheres. Mas não a todas, senão a uma. À mulher no seu melhor. E por isso acabam por perder, às vezes. Ponham as culpas no cromossoma avariado.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Por quem os sinos dobram


Nunca mais
Caminharás nos caminhos naturais.
Nunca mais te poderás sentir
Invulnerável, real e densa -
Para sempre está perdido
o que mais do que tudo procuraste
A plenitude de cada presença.
E será sempre o mesmo sonho, a mesma ausência.


Sophia de Mello Breyner,
Nunca mais




Desculpem. Hoje é a sério.
Ele era o miúdo mais giro do liceu e ela uma miúda apagada, entre a miríade de garotas adolescentes. Não fosse ser a mais inteligente de todas e a que tinha um futuro mais promissor, ele nem sequer teria olhado para ela duas vezes. Quando ficaram na mesma turma, ele percebeu que se estudasse com ela, ficasse ao seu lado nos testes e fizesse parte do seu grupo de trabalhos, faria a escola secundária com a maior das facilidades. Seguiram juntos para a universidade e para a vida. Nem os amigos dele percebiam porque é que permitia que aquela mosquinha morta o seguisse para todo lado, nem as amigas dela percebiam aquela paixão por um fulano que tinha os olhos virados para o umbigo e só gostava dele mesmo. Acabado o curso casaram, seguindo o que aparentemente parecia ser o rumo natural das suas vidas, mas que ninguém percebia. Um bom curso, um bom emprego, uma boa casa. A história acabaria aqui e nem sequer seria original. Mas não acabou.
A primeira vez que ele a atingiu, ela ficou a matutar no que poderia ter-lhe acontecido durante o dia. Desdramatizou o sucedido. Fora só uma bofetada sem consequências. Os dedos mal lhe tocaram. Talvez ele se tivesse chateado no emprego, talvez estivesse com dor de cabeça. Não merecia a pena empolar a situação. Quem sabe, fora somente uma cervejinha a mais. Não fora ele, claro! Fora o alcool. Ele não seria capaz de lhe levantar a mão. Quem ama não maltrata!
A segunda vez que a mão dele a atingiu em cheio na face, deixando-lhe um rasto de fogo e dor na pele, ela ficou a matutar no que pudera ter feito para lhe provocar tamanha ira. Quem sabe, por ter ajudado os miúdos a tomar banho, ou o jantar tivesse ficado cozinhado demais e sem sabor. Talvez ele se tivesse sentido posto de parte por ela ter conversado com a mãe ao telefone mais cinco minutos do que na semana anterior. Ou então, seria por se ter esquecido de lhe pregar o botão das calças que ele queria exactamente vestir nesse dia e não nenhum dos outros cinco pares pendurados no roupeiro. Ou a nódoa que não saiu da t-shirt depois do último jantar com os amigos dele no sábado à noite, e que ela não se lembrou de esfregar à mão. Tudo por culpa dela. Tinha de estar mais atenta. Aquilo fora concerteza uma chamada de atenção, como se ela fosse uma garota da escola que precisasse de castigo por não ter feito os trabalhos de casa. Quem ama educa!
À terceira vez, o sangue escorreu-lhe pelo nariz e salpicou o tapete, os filhos choraram agarrados às suas pernas e ela ficou a matutar no porquê sem encontrar uma razão. Contou á mãe. A mãe aconselhou-a a não dizer nada, a fazer de conta que nada sucedera e a ser mais amorosa com ele. Os homens tinham dessas coisas. E às mulheres cabia compreender. Não, não se contava fora de casa o que acontecia entre marido e mulher! Que vergonha! O que é que as pessoas iam pensar? Que ela não sabia cuidar da casa, dos filhos, do marido? Trabalhava fora pois sim, como todas as outras, isso que tinha? Ela tinha um curso superior, era jovem e bonita e bem cotada profissionalmente, mas em casa era apenas uma mulher e esposa e tinha de se comportar como tal. O pai fizera o mesmo em determinada altura da sua vida. Depois passara-lhe. Fora uma fase. Ela ia ver que as coisas haveriam de melhorar. Só tinha que ser mais cuidadosa e... Boca fechada! Quem ama não conta!
Da quarta vez, ela nem se preocupou em encontrar uma razão. Apenas procurou encontrar uma boa desculpa para justificar as nódoas negras e a costela partida aos seus amigos e colegas de trabalho. Uma amiga deu-lhe um cartão com um número de telefone, discretamente e com um sorriso cúmplice. Ela olhou o número, telefonou e quando a voz do outro lado anunciou o nome da entidade para quem ligara, ela simplesmente desligou o telefone furiosa e incomodada. Que disparate! Ela lá precisava de ajuda? Tinha um bom emprego, ganhava bem, era culta e inteligente. Valia-se a si própria. Não precisava da ajuda de ninguém, muito menos dum grupo de mulheres que apregoava ao resto do mundo os maltratos dos maridos, companheiros, namorados. Era só uma fase. Ela não era nenhuma mulher maltratada, nem desvalida. Aquilo ia passar. Quem ama perdoa!
Da quinta vez que aconteceu, já estava habituada. É incrível o tipo de coisas a que o ser humano se habitua! Seria amor? Seria preguiça da sua parte? Acomodação? Medo? Sabia lá! Acordou no hospital. Mais costelas partidas, um pneumatorax ligeiro, o nariz quase desfeito. Uma das enfermeiras não acreditou na sua desculpa de ter caído pela escada. Era uma desastrada e distraída e ainda não aprendera a andar de saltos altos.
- Está bem. Então antes de aprender a andar de saltos altos, e antes que se mate, telefone a quem a possa ajudar a aprender a caminhar. - Disse a enfermeira com preocupação. Já tinha visto tantas mulheres assim! Umas voltavam para casa e regressavam, ano após ano, mês após mês, dia após dia. Outras já não regressavam. Entravam directamente para a cave, um corredor mal iluminado e a cheirar a formol e desinfectante, e ficavam ali deitadas numa cama de aço, um lençol por cima a tapar o corpo massacrado e uma etiqueta no dedo grande do pé. Ela encolheu os ombros. Quem ama não mata!
Da sexta vez, ela tapou a cabeça com as mãos e encolheu-se quieta num canto, esperando que a fúria dele se esgotasse. O sangue jorrou-lhe do nariz, dos ouvidos, até dos olhos. Nunca pensara que o seu corpo conseguisse aguentar tanta dor. O cérebro parecia ter-se diluído com as pancadas, encurralado entre uma caixa cerebral que estalava a cada soco. Quem ama... Quem não faz o quê?
Não houve uma sétima vez. Entrou no hospital já coberta por um saco de plástico grosso com fecho. Seguiu para o corredor mal iluminado. Ficou em paz e sossego numa cama de aço a engrossar as estatísticas.
À Joana. Amor mata!
 


O Estado das coisas (nos media):
«[...] Jornalista: Na sua opinião, uma mulher agredida pelo marido deve manter o casamento ou divorciar-se?
Monsenhor LG: Depende do grau da agressão.
Jornalista: O que é isso do grau da agressão?
Monsenhor LG: Há o indivíduo que bate na mulher todas as semanas e há o indivíduo que dá um soco na mulher de três em três anos.
Jornalista: Então reformulo a questão: agressões pontuais justificam um divórcio?
Monsenhor LG: Eu, pelo menos, se estivesse na parte da mulher que tivesse um marido que a amava verdadeiramente no resto do tempo, achava que não [...]»
(Monsenhor Luciano Guerra, Reitor do Santuário de Fátima; entrevista ao DN, 6.10.2007)

Eu não comento. Só pergunto: alguém me sabe explicar o que é isso do amor com intermitência? Hoje amo-te, amanhã bato-te e depois de amanhã volto a amar-te se não me apetecer voltar a bater-te?

Actualmente registam-se cerca de 76 queixas diárias de maus tratos, violência doméstica por dia. POR DIA! São cerca de 3 queixas por hora. Ou seja, a cada 20 minutos, alguém é agredido e apresenta queixa. E os outros? Os que se calam? Quantos são?

Linha telefónica de informação ás vítimas de violência doméstica: 800 202 148
Onde pode apresentar queixa?
APAV - Associação Portuguesa de Apoio à Vítima
NMUME - Núcleo Mulher e Menor, Guarda Nacional Republicana
Posto da GNR
Esquadra da PSP
Polícia Judiciária
Ministério Público
Ministério da Administração Interna (Pode apresentar queixa por via electrónica)
Instituto de Medicina Legal (Lisboa, Coimbra e Porto)
Gabinetes Médico-Legais a funcionarem nos Hospitais


As manias das mulheres

Primeiro as senhoras. Que é para os homens não protestarem já:
- O quê? Nós outra vez?
Isto, aviso eu, é pura estratégia feminina.

Porque é que as mulheres falam tanto?

Uma pesquisa realizada nos EU (Muito pesquisam eles!) mostrou que os homens usam por dia um mínimo de 1500 palavras e as mulheres o dobro. No congresso onde este estudo foi apresentado, uma mulher levantou-se e tentou justificar-se:
- É natural que falemos mais. Invariavelmente temos de repetir o que dissémos para os homens nos entenderem.
E o orador perguntou:
- Como assim?

Porque é que as mulheres usam malas que parecem baús ou a bagageira do carro do meu tio Isaac?

Carteira. Porta-moedas que as moedinhas são mais que muitas e têm de ter estojo próprio senão rompem a carteira. Bloco-notas. Canetas, não vá uma deixar de escrever, há que ter pelo menos duas. Lenços de papel, mais do que maço faz sempre jeito. Perfume. Baton (pessoalmente sem este item sinto-me meio despida). Rimel. Blush. Pente. Livro ou revista. Chaves (da casa, da casa dos pais, da casa do namorado, do carro, da arrecadação, do gabinete, da gaveta do cemitério...). Pen. Uma série de papéis do Multibanco e do supermercado.
No mínimo.

Porque é que as mulheres vão em bando à casa-de-banho?

Ora, para além do óbvio, vão obviamente falar dos seus homens. Ah, pois vão! Comentar o que os seus acompanhantes fizeram ou disseram, contar que o loiro giro com ar de pirata do bar não tira os olhos dela, enfim, essas coisas. Ao contrário dos homens que calam pormenores sórdidos das suas mulheres (será?), estes são os primeiros segredos que as mulheres trocam umas com as outras. É no WC que se dão conselhos, se enxugam lágrimas, se destroem relações, se trocam experiências e batons e se dá um toque no penteado novo da amiga.
Claro que também costumamos ir em bando por solidariedade. Invariavelmente não há onde pendurar a mala e... Oh incúria, oh infortúnio, oh desdita! O papel higiénico acabou no mês passado. Uma amiga salva sempre estas situações. Estão a ver agora a necessidade das paletes de lenços de papel na mala?
Enquanto isso, o príncipe-sapo e o sapo-príncipe fazem xixi, esperam, sopram, olham o tecto e um deles ainda tem tempo de ler poesia de Neruda.
Hem??? O que é que eu escrevi? Lê Neruda? E onde anda esse espécimen raro? Onde?

Porque é que as mulheres gastam tanto dinheiro em lingerie?

Desiludam-se. Não é para que os olhos dos homens saiam das órbitas, não. É porque dá um tremendo prazer sabermos que debaixo da camisola de lã, velha e confortável, está uma obra de arte artificial suportando obras de arte da natureza. Faço minhas as palavras que ouvi um médico comentar com um seu colega sobre uma sua paciente das urgências:
- Não há nada mais triste do que uma mulher com umas cuecas rotas ou um soutien velho e desbotado!

Porque é que as mulheres usam decotes e saias curtas?

E passam a vida a puxar o decote para cima e a saia para baixo? Pois, de facto eu não tenho resposta para tudo, mas ou assumem ou não usam. Não é sensual (gosto mais do sensual que de sexy) andarem constantemente a mexer num e noutro, porque se percebe que não estão à vontade.

Porque é que as mulheres substituem um elogio por um comentário negativo?

Casados há vionte anos. O Manel chega a casa com um bouquet de malmequeres.
A Maria, esconde o espanto e a felicidade e comenta:
- Ena! O que é que te deu? Estás doente ou quê?

Porque é quas mulheres consideram o futebol um rival?
Não seria pior para os nossos egos se eles desatassem a ver todos os filmes da Angelina Jolie?

Porque é que as mulheres falam mal dos homens?

Quando eles tentam ajudar e nós continuamos com a mania de que temos de os ensinar para que as coisas saiam como achamos que devem sair? Porque é temos sempre de os comparar com seres perfeitos? Claro que quando uma mulher avalia um homem está sempre a compará-lo com o ser mais perfeito que conhece, que é ela própria.
Deixem fazer! Caso contrário, se forem logo catalogados com a categoria de sub-inútil nunca mais voltarão a tentar.

Porque é que as mulheres são umas cabras umas para as outras?

Os homens entre eles tratam-se abaixo de cão. Com nomes que se as avós deles ouvissem, os habilitava a terem pimenta na língua ou irem à igreja meter a língua na água benta.
- Então, meu grande cab... O que tens feito da put... da vida, meu?
- Eh, FDP, 'tás mais gordo meu!
Quando se despedem e vai cada um para seu lado, comentam sozinhos:
- Eh, pá, gosto mesmo deste gajo!
Não é por mal, é camaradagem.
As mulheres?
Amiga 1: - Achas que este vestido me faz mais gorda, querida?
Amiga 2: - Não! Que disparate! Até te faz mais elegante e realça-te a cor do cabelo.
E enquanto a amiga 1 vai toda lampeira pagar a sua nova aquisição, a amiga 2 comenta entre dentes:
- Realça-te a cor do cabelo oxigenado com raízes pretas à mostra, as banhas e o cu de prateleira... Gorda!

Ah, os homens sorriem? Já lá vamos!