segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Come o morango!

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...

Mário Quintana
Eterno espanto

O homem escorregou no barranco e agarrou-se às raízes de uma árvore. Não se apercebera do risco, não calculara aquele perigo. Agora é que estava feito!
Em cima do barranco, um enorme urso esperava por ele, com toda a calma de quem sabe que o jantar pode demorar, mas está garantido. Quando se babava na antecipação da sua carne fresca, parecia até que se ria.
No lado de baixo do barranco, um grupo de onças impacientes e famintas começavam a combinar entre si, por antecipação, o pedaço que cada uma lhe haveria de comer, caso escorregasse por ali abaixo.
O homem olhava para cima e via o urso rindo e esperando. Encolhia-se para que ele nem sequer chegasse na sua cabeça. O homem olhava para baixo e encolhia-se para que as onças não o agarrassem pelo fundo das calças. As onças lá em baixo querendo prová-lo, e o urso em cima querendo devorá-lo e ele ali cada vez mais encolhido e encurralado, sem ver uma saída.
Nesse momento de aflição, ele olhou para o lado esquerdo e viu um morango vermelho, lindo, com aquelas escamas rubras reflectindo o sol. Que diabo, que raio de sítio para nascerem morangos. E que pensamento estúpido lhe ocorreu naquele momento. E porque não? Num esforço supremo, apoiou o seu corpo, sustentado apenas pela mão direita, e com a esquerda agarrou o morango. Levou-o à boca e  deliciou-se com o sabor doce e suculento. Um verdadeiro prazer, quem sabe seria o último prazer da sua vida....
Nesse momento, esqueceu o urso e as onças. Nesse instante de prazer, conseguiu perceber que o urso não era tão grande assim, talvez fosse apenas só mesmo um filhote. Dois ou três berros bem dados e uma dança macabra afugentavam o bicho. E as onças estavam a empalidecer de aborrecimento. Não tarda, iriam embora, tão famintas como vieram mas fartas de esperar. As onças não foram abençoadas com a virtude da paciência.
Pois é, dane-se o urso e comamos o morango!
Raios partam as onças, mas comamos o morango!
Sempre existirão ursos querendo comer as nossas cabeças e onças à espera de provar o nosso rabo. Isso faz parte da vida, O importante é saber comer os morangos, sempre. Nós não podemos deixar de comê-los só porque existem ursos e onças.
E agora dizes tu assim: Ah, isso é muito bom de dizer, mas eu tenho muitos problemas para resolver!
Tens e terás! Problemas não impedem ninguém de ser feliz. O facto do teu chefe ser um chato não é motivo para deixares de gostar do teu trabalho. O facto de a tua mulher estar com dor de cabeça não vos impede de deitarem juntos, agarradinhos. O facto do teu filho ir mal na escola não é razão para não dares um passeio pelo campo com ele.
Come lá o morango, e vive esse momento como se fosse o último. Sabes lá se não o é.


2 comentários:

HBC HDTV disse...

HBC HDTV:
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HBC HDTV disse...

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