quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Angelus

Angelus officii nomen est, non naturae. Quaeris nomen huius naturae, spiritus est; quaeris officium, angelus est; quaeris officium, angelus est, ex eo quod est, spiritus est, ex eo quod agit, angelus.

 
Santo Agostinho



Eu tenho um anjo!

Quando eu nasci, o meu anjo disse que ficaria comigo, prometeu que seria meu companheiro de viagem, meu amigo, mas pediu segredo. O meu anjo não me prometeu uma vida feliz, nem isenta de mágoa. Prometeu sim que Deus não me daria maior dor do que aquela que eu pudesse suportar. Prometeu que eu seria maior que toda a raiva, desespero e tristeza que encontrasse no caminho. E que os sorrisos, o amor e a paixão haveriam de chegar e partir, porque são apenas empréstimos, para nós usarmos e darmos aos outros.

O meu anjo prometeu-me que, como um dia disse um escritor poeta, eu poderei vir a ser apenas mais uma pessoa para o mundo, mas que me enviará alguém para quem eu serei o mundo. Nos meus momentos de dor, eu sinto as suas asas limparem as minhas lágrimas. E sei que estará sempre onde eu cair, para me pôr as asas por baixo. Pronto para juntar às suas asas as minhas penas. E para lutar a meu lado nas pequenas guerras da vida.

Ele está comigo proque eu lhe peço. Ele vem quando eu o chamo. Por amor, somente. E vem sem se fazer anunciar por trombetas de glória nem luzes douradas. Vem, mesmo despido, sem mantos púrpuras nem coroas brilhantes. Ouço-o nas vozes dos amigos, das crianças, dum desconhecido. Oiço-o na natureza. Nas rimas dum poema ou duma canção. Nas palavras do velho vagabundo que me abençoa pela parca esmola que lhe dou. No coração duma criança por nascer. Nas cordas dum violino que chora. Vejo-o nos olhos enormes e lindos da minha filha, filha das estrelas que Deus me emprestou para amar. Não o oiço com os ouvidos, não o vejo com os olhos, mas somente com o coração e a alma, porque esses nunca nos enganam. Eu nunca estou só. Eu tenho um anjo.


Para H. e K. Eles sabem!

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