quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Caminhos

É dos deuses
tocar fogo às coisas
esperar naturalmente
as sentenças
escritas na cinza.

Fernando Paixão,
É dos deuses



Alguns de nós foram criados pelo sonho dum cadáver e nasceram já mortos ou morreram na vida. Outros são velhos na vida, não na idade, e deixaram-se ficar à soleira da porta a ver os outros passarem, pianos desafinados sem saberem em que tom tocar. Alguns de nós vão pela vida como vagabundos a quem mandaram um dia ver o fim de todas as estradas do mundo.
Alguns de nós andam pela vida como barcos de velas enfunadas e caminham velozes pelos mares do mundo, sem encalhar, sem naufragar, as quilhas reluzentes e altaneiras, as velas da mais pura tela, mas sem porto seguro.
Alguns de nós parecem caminhar sobre as nuvens, olhando para os outros por cima, como se os restantes mortais fossem apenas formiguinhas. Outros, como eu, andam um pouco ao sabor do vento, do sol, da chuva e das tempestades e das ondas do mar, feiticeiros e feiticeiras da vida, mas não seguem nenhum daqueles caminhos. Podem não saber qual o seu destino final, mas sabem onde pisam e por onde não querem ir. Não vão atrás do rebanho. Não somos pastores, nem predadores e não guardamos rebanhos. Vamos pela estrada do meio. Aonde nos levará?

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