terça-feira, 28 de outubro de 2008

Requiem

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Sou uma vida baloiçada
Na consciência de existir.
A aranha da minha sorte
Faz teia de muro a muro...
Sou presa do meu suporte.

Fernando Pessoa
A aranha do meu destino



Não posso viver sem ti!
Não quero viver sem ela!
És a razão da minha vida!
Sem ti não sou ninguém!
Quantas vezes ouvimos isto? Quantas vezes as dissemos ou pensámos? Porque é que entregamos nas mãos dos outros a nossa paz de espírito, a felicidade, a alegria de viver? A troco de quê? Por alma de quem? Pela nossa provavelmente. A fazermos isto, estamos a cantar um requiem por nós mesmos. Quem é que vai viver a nossa vida? Quem é responsável pelas nossas decisões, pelas escolhas e caminhos trilhados? Para quê deitar culpas aos outros por aquilo que não conseguimos aceitar em nós mesmos?
Assim como não somos donos de ninguém, não podemos dar aos outros o poder sobre a nossa vida, desejos e vontade. Um poder que, muitas vezes, nem sequer é pelos outros sonhado. Menos ainda desejado. Não podemos colocar nos seus ombros uma responsabilidade que não lhes compete. Não podemos colocar a felicidade tão longe de nós, muitas vezes mesmo, fora do nosso alcance e dizer como a raposa que está longe e não lhe podemos chegar. Não podemos boicotar a nossa própria vida.
Não são aquelas palavras que são perigosas. É a acção subentendida nelas. “Sem ti não sou ninguém!” Uma acção de anulação do próprio ser, o caminho ideal para a frustração e infelicidade. Uma agressão ao ego. A razão da nossa vida somos nós mesmos. Não nos boicotemos, nem pensemos mal de nós. Afinal quem é que gosta mais de nós senão nós?
Agora, deixemos de ser preguiçosos e pessimistas. Estendamos os braços para alcançar o que está mais perto, mexamos os pés para dar um passinho de cada vez. Assumamos que os nossos problemas financeiros, amorosos ou familiares compete a nós resolver e assumir as escolhas que fazemos.
O Universo quando conspira é para nosso bem. Não para nos arrastar para a escuridão. Mas se corrermos as cortinas na nossa vida, não fiquemos à espera que a luz venha sem mexermos um músculo. Afinal, o sol está lá, mesmo atrás das cortinas, não está?
O Universo, ou Deus não nos dá nada. Empresta. Bens e pessoas que farão parte das nossas vidas para nos ajudar ou ensinar algo. Depois, são levadas de volta e não podemos ficar a chorar por elas, pois nunca foram nossas. Depressa estarão ensinando outros no que precisam de aprender. E nós, teremos de ser capazes de caminhar sozinhos, de estar alegres e de bem connosco. E encontrar o nosso próprio caminho.
Não quereremos ninguém que precise de nós. Não precisaremos de ninguém. E quem vier, há-de vir porque nós somos o seu desejo. E nós ficaremos, porque assim o queremos. Nada mais puro, nem mais verdadeiro, que aquele que chega e sabe que encontrou a sua casa e que nunca mais precisará trancar as portas.

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